Sobre a obra

A obra do pintor Milton Ribeiro, desenvolvida ao longo de mais de setenta anos de pintura, é uma das mais longevas trajetórias artísticas da arte brasileira. Como explica Paulo Herkenhoff, sobre Milton Ribeiro e sua obra cabe destacar dos significados históricos. “O primeiro é sua origem cultural, pois era afrodescendente e vinculado às religiões de matriz africana e, em seu tempo, produziu uma das mais extensas representações dos orixás e das respectivas cerimônias religiosas, sobretudo dos centros religiosos que frequentou.” 

O segundo significado da obra de Ribeiro é a sua representação de uma paisagem de Brasília a partir do final da década de 1960, bastante relevante porque apresenta um aspecto que desapareceu da vida cotidiana nas cidades satélites e no Plano Piloto. 

Hotel Asa Norte, 1967

“Milton Ribeiro – acrescenta ainda Herkenhoff – traz uma cor vívida de um tempo em que a memória de Brasília mais sólida foi em preto e branco em função das técnicas da fotografia e de impressão das revistas. O projeto buscará tornar visível a obra de Milton Ribeiro, suas nuances e sentidos para o Brasil, para preencher uma lacuna significativa da história da arte do país.”

O pintor em trabalho de campo (s/d, autor desconhecido)

Dia de regata, 1977

Feira do Paranoá, 1987

A representação de Brasília, portanto, tem um papel relevante no conjunto da obra de Ribeiro, tanto do período chamado histórico, através das quais o pintor representou os barracões de madeira que nos anos 1960 e 1970 ainda sobreviviam no Plano Piloto até um pouco mais tarde, em cidades satélites como o Núcleo Bandeirante e no Paranoá.   

Cabe destacar que a documentação visual deste aspecto de Brasília foi negligenciada, à época, em favor de uma primazia quase absoluta conferida à arquitetura monumental que marcou o imaginário mundial naquele começo da década de 1960. Em termos pictóricos, não há nenhuma outra obra com esse tema e, mesmo no que tange à fotografia, as raras imagens disponíveis são praticamente todas em preto e branco, como destacou o curador.  As demais obras apresentadas mostram uma Brasília moderna onde o monumental da arquitetura tem como moldura a exuberância da vegetação do cerrado

Pelas suas respectivas especificidades – o valor histórico e documental único de umas e o protagonismo da natureza em diálogo com o rigor da arquitetura de outras – esta contribuição de Milton Ribeiro para a iconografia primordial da capital é única e  sem paralelo. 

Outras fases da obra de Milton Ribeiro – vai dos anos 1940 até a primeira década deste século – merecem destaque, com a do Pequeno Arquiteto uma pintura abstrata rigorosamente construída a partir da própria dinâmica das cores, e dos orixás, onde são representadas cenas e personagens do universo das religiões afro-brasileiras.

O Pequeno Arquiteto com circo, 1986

Bem como a série sobre os cultos afro-brasileiros.

Nanã Burakê, 1999

A pintura de cunho social é outro dos aspectos marcantes da obra de Milton Ribeiro, presente em pinturas da sua juventude e da maturidade. 

Família de cego, 1944

Figura de flautista cego, 2011

Milton Ribeiro também se debruçou sobre temas caros à história a arte, como o nu e a natureza morta, presentes com obras que remetem à estética do pós-guerra desenvolvida por André Lothe.   

Camélia, 1954